Prioridades

Tratava-se de um jovem erudito, arrogante e convencido. Para atravessar um caudaloso rio, apanhou uma barca. Silencioso e submisso, o barqueiro começou a remar com diligência. De súbito, um bando de pássaros sulcou o firmamento e o jovem perguntou ao barqueiro:
- Bom homem, estudaste a vida das aves?
- Não, senhor-respondeu o barqueiro.
-Então, amigo, perdeste a quarta parte da tua vida.
Passados uns minutos, a barca deslizou junto de umas exóticas plantas que flutuavam nas àguas do rio. O jovem perguntou ao barqueiro:
-Diz-me, barqueiro, estudaste botânica?
-Não senhor, não sei nada de plantas.
-Então devo dizer que perdeste metade da tua vida- comentou o petulante jovem.
O barqueiro continuava a remar, pacientemente. O sol do meio-dia reflectia-se nas àguas do rio. Então o jovem perguntou:
-Sem dúvida, barqueiro, navegas nestas àguas há anos. Sabes alguma coisa sobre a natureza das àguas?
-Não, senhor, nada sei a esse respeito. Não sei nada sobre estas àguas nem sobre quaisquer outras.
-Oh, amigo!- exclamou o jovem.- Francamente, perdeste três quartas partes da tua vida.
Subitamente a barca começou a meter àgua. Não havia maneira de tirá-la e começou a afundar-se. O barqueiro perguntou ao jovem:
-Senhor, sabe nadar?
-Não-respondeu o jovem.
-Então temo, senhor, que perdeu toda a sua vida.
A sabedoria também comporta sabedoria quotidiana, não é apenas um cúmulo de conhecimentos emprestados, sem qualquer aptidão para poder resolver as dificuldades de cada momento.
in Os melhores contos espirituais do oriente, Ramiro Calle
O ser humano sempre teve necessidade de conhecimento. Muitas vezes preocupamo-nos em aprender, aprender e esquecemos coisas básicas. Hoje em dia busca-se muito a espiritualidade mas muitas pessoas vão esquecendo-se que precisam de viver no planeta Terra, com tudo o que isso implica. Curioso que oiço algumas pessoas dizerem que certas terapias deviam ser dadas de graça, mas mais curioso ainda é que a taxa de cura nas pessoas que usam essas terapias é maior quando pagam. Talvez pelo respeito que isso possa implicar, a atitude fica diferente. Talvez tenha a ver com a tomada de consciência de que somos espiritos a viver neste planeta. Também esquecem-se que ninguém vive do ar e que existe sempre muito investimento, a todos os niveis, dos terapeutas para que possam ajudar as pessoas como deve ser. Penso que conciliar o nosso lado espiritual com a vivência na Terra é um dos nossos grandes desafios.